Por Eber Freitas – Administradores.com – 03/04/2018
Inovar não é o papel apenas de empresas como um todo, mas também dos profissionais que participam dessas empresas. Funcionários inovadores, além de gozarem de boa reputação no mercado, tendem a ter melhores salários e a conseguir melhores posições — inclusive na liderança. Ser um profissional inovador depende, em parte, do nível de conhecimento e acesso a informações, mas também requer postura e atitude.
Para o professor de marketing e vendas e CEO da Doxa Advisers Enio Klein, é importante estabelecer conceitualmente o que é ser inovador. “Inovar é utilizar conceitos existentes, que funcionam em ambientes já conhecidos, de forma que eles jamais foram usados antes e que levam a novos resultados”, explica.
“A visão de inovação não necessariamente tem um propósito apenas de descoberta de um novo serviço, processo ou tecnologia, mas também de trazer valor a determinadas circunstâncias, como o modo de realizar um processo de maneira diferente dentro de um setor de uma empresa, trazendo ganhos de eficiência operacional”, exemplifica o diretor da Orbitall, Bráulio Lalau. Saiba mais: Qual a importância da cultura da inovação para as empresas? Descubra com a SONDA Patrocinado
Para Klein, a inovação não é uma qualidade inata do profissional, mas uma prática que ele pode exercer de acordo com o seu perfil e nível de conhecimento. O consultor também enfatiza que não é preciso ser inovador para ser um ótimo profissional e que a empresa também precisa de pessoas com outros perfis.
“Os rótulos são perigosos. As empresas precisam estimular o aparecimento de profissionais que inovam, mas isso não pode ser uma exigência para qualquer profissional em qualquer situação. O equilíbrio e diversidade em qualquer circunstância são sempre as melhores práticas.”, afirma Klein.
“As pessoas que são essencialmente inovadoras são muito visionárias e sonhadoras, mas geralmente precisam estar próximas de pessoas que são mais planejadoras, executoras e realizadoras”, ressalta a consultora e sócia-proprietária da ConsultaRH Alessandra Fonseca, que defende a formação de equipes multidisciplinares.
Qual o diferencial?
Profissionais que praticam a inovação têm mais chances de assumir cargos de liderança nas empresas e são cobiçados no mercado por empresas de ponta. “No ambiente organizacional, as pessoas inovadoras convivem melhor com mudanças rápidas e estão mais capacitadas a inovar e solucionar problemas”, lembra Fonseca.
As empresas, por sua vez, dependem da inovação para se diferenciarem da concorrência no mercado. Contratar, portanto, profissionais abertos à inovação é vital para os negócios. “Trabalhar com inovação é permitir acessar estímulos diferentes sem criticidade, sem o primeiro julgamento, sem avaliar se pode ou não dar certo”, destaca.
Em geral, profissionais com atitudes mais inovadoras têm boa formação acadêmica e são bem informados, o que indica que houve um custo alto em seu desenvolvimento profissional. Têm visão multicultural e conhecimento amplo de mundo.
Ao mesmo tempo, eles sabem resolver problemas práticos e têm uma mentalidade pró-mercado, com ênfase na entrega de resultados. É uma combinação incomum e valorizada; mas esses profissionais também são movidos por outras motivações além do salário e dos benefícios, como a busca do propósito no trabalho.
As 5 principais características
“A atitude inovadora é uma mistura de conhecimento prévio, disposição a aprender, disposição ao risco e muita iniciativa. É por isso que empreendedores de sucesso normalmente são profissionais que inovam”, detalha Enio Klein.
O consultor afirma também que não existe um perfil único e acabado de inovador. “Existem perfis mais favoráveis a inovação, como já mencionei. Algumas [características] o profissional tem. Outras, ele pode desenvolver. Há aquelas, contudo, em que o profissional precisará aprender a conviver se quiser praticar a inovação”, enfatiza.
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Proatividade
É a principal característica. A inovação está relacionada à resolução criativa de problemas, portanto é necessário existir a disposição para tal. Para Bráulio, o profissional pensa da seguinte maneira: “se você esperar sentado um convite para criar algo, é provável que alguém crie antes de você”.
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Ser questionador
Ter um diploma não é garantia. Um profissional inovador deve enxergar novas soluções para os problemas diante dele e buscar novos aprendizados para desenvolver tais soluções. “Inovar não é só aparecer com algo que nunca foi visto. É pensar em uma solução nova para atender a uma demanda antiga”, defende Bráulio.
Para Fonseca, a curiosidade é uma marca da atitude inovadora. “Esses profissionais têm espírito questionador e especulativo, além de interesses variados”, conta.
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Nunca desistir no primeiro fracasso
A inovação é fruto de tentativas e erros, algo que nem todos os profissionais ou empresas estão dispostos a aceitar. É difícil persistir diante do fracasso, principalmente quando dinheiro e trabalho foram investidos em algo que não deu certo. Por isso, uma das características mais importantes em um profissional inovador é a resiliência.
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Aceitar que não sabe de tudo
Definir os próprios limites é o ponto de partida para quem quer praticar a inovação. Ninguém sabe de tudo, mas quem pensa saber perde a oportunidade de fazer perguntas. “A melhor maneira de promover a inovação e desenvolver esse potencial é se questionar. A pergunta mais poderosa nesse processo é “E se…?” ou “Existe uma maneira mais eficiente, mais rápida, melhor de executar essa tarefa?”, ou ainda “Existe uma forma de não fazer?”, explica Fonseca.
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Saber compartilhar conhecimentos
O trabalho em equipe não é questão de escolha para nenhum profissional, mas os inovadores devem saber tirar o máximo proveito dele. Essa capacidade requer competências de inteligência emocional, que não são fáceis de desenvolver. “Qualquer criação ou mudança, da mais inusitada à mais trivial, é fruto de um esforço conjunto. Se você pretende ser um profissional inovador, melhore suas habilidades de trabalho em equipe”, defende Bráulio.
Como desenvolver habilidades de inovação?
Essa tarefa é tanto do profissional quanto da empresa, uma vez que há interesse de ambos os lados. Klein explica que “empresas devem ter o papel de incentivar que os profissionais inovadores apareçam”, o que implica em uma cultura voltada para a inovação. “O estímulo a inovação é a primeira principal ferramenta para que os profissionais com perfil inovador apareçam e possam se desenvolver”, detalha.
Para Alessandra Fonseca, a empresa pode estimular seus colaboradores a terem um ‘mindset’ mais inovador, “capacitando líderes e gestores para que propiciem um ambiente que permita o potencial criativo, não ridicularizem novas ideias, questionem e ajudem a encontrar novas maneiras de fazer a mesma tarefa e a melhorar os processos visando torná-los mais eficientes”.
O profissional, por sua vez, deve investir em capacitação e no aperfeiçoamento pessoal e profissional. Algumas das características que propiciam a inovação são desenvolvidas ao longo do tempo, outras são quase inatas, mas todas podem ser aprendidas.
“Minha dica é que os profissionais não esperem que a organização traga esse desenvolvimento inovador, sejam proativos e busquem esse estímulo por si próprio e quando esse movimento chegar a sua área de atuação, o colaborador já estará apto”, conclui Bráulio.