Empresários do Acre demonstram preocupação com a economia em 2025, aponta estudo do Fórum Empresarial do Acre

Falta de continuidade nas políticas públicas, dificuldades de crédito, infraestrutura deficiente e alta volatilidade econômica. Essas são algumas das preocupações dos empresários, sindicalistas, agentes públicos e representantes dos setores produtivos demonstraram durante um encontro promovido pelo Fórum Empresarial de Inovação e Desenvolvimento do Acre.

A iniciativa reuniu a classe empresarial e representantes do Governo do Estado e da Prefeitura de Rio Branco para debater os desafios e as expectativas econômicas para 2025. Participaram o secretário estadual de Indústria, Ciência e Tecnologia (Seict), Assurbanípal Mesquita, o secretaria municipal de Infraestrutura e Mobilidade Urbana (Seinfra), Antônio Cid, o vice-presidente da Federação das Indústrias do Acre (Fieac) e presidente do Sindicato da Indústria de Extração de Areia, Argila e Laterita do Estado do Acre (Sindmineral), João Paulo de Assis, do Banco da Amazônia, Banco do Brasil, representantes da Secretaria Estadual de Planejamento (Seplan).

O encontro resultou na elaboração do Estudo Econômico ‘2025: Um ano desafiador para o Acre, que apresenta uma visão geral da economia mundial, nacional e estadual, contextualizando o Acre dentro de uma conjuntura global de crescimento desacelerado e desafios específicos para países em desenvolvimento, como o Brasil.

As projeções para 2025 indicam que o Acre enfrentará tanto oportunidades quanto obstáculos econômicos.

Enquanto os agentes públicos demonstraram otimismo, destacando obras públicas significativas e programas habitacionais e os perfis socioeconômicos, expectativas quanto à inflação, juros, emprego e renda.

Os entrevistados demonstraram preocupações significativas com a alta dos preços, em especial no setor alimentício, e com a manutenção das condições de crédito. Apesar disso, há também expectativas de melhorias salariais e aumento no nível de investimentos governamentais.

Destaca-se que, embora haja otimismo em alguns setores, como o da construção civil e da produção agrícola (com especial atenção ao crescimento esperado na produção de café e carnes), os desafios estruturais, como infraestrutura, logística e políticas públicas pouco integradas, continuam a limitar o potencial de desenvolvimento. A análise revela uma desconexão entre as expectativas de crescimento econômico e a realidade enfrentada pela classe empresarial e a população.

Empresários e secretários falaram sobre as dificuldades em cada setor

Otimismo

Os representantes do Governo Estadual e  da Prefeitura de Rio Branco demostraram certo otimismo com respeito ao desempenho da economia em 2025.

Para o representante da prefeitura, 2024 foi marcado por uma maior arrecadação do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) e a esperança é que em 2025 a arrecadação se mantenha, no mínimo, neste patamar. O otimismo também se relaciona com uma esperança de que emendas parlamentares sejam repassadas ao município de Rio Branco.

Os representantes do Governo do Estado acreditam que 2025 será um ano de revisão dos instrumentos de planejamento e alinhamento das ações por causa da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30). Isso implica na necessidade de aproximação com as prefeituras, principalmente do interior do estado.

Existe no governo a previsão de efetivação de muitas obras públicas com orçamentos significativos. Inclusive, o próprio governador sinalizou em entrevista à mídia local que 2025 será um ano de efetivação de muitas obras. Destacou que “2024 foi o ano das emoções e chegou a hora de 2025 ser o ano das realizações e do executar”.

Há um otimismo a respeito do desempenho do setor de construção civil, que terá incrementos fortes em 2025, devido, principalmente, aos programas de habitação. Como se trata de um segmento que emprega muita mão de obra e por se tratar de uma atividade compradora de insumos da indústria de transformação, a expectativa é que impacte positivamente em toda a economia.

O governo também espera incrementos significativos na produção e exportação de suínos, carnes, fruticultura e café.

No tocante ao café, a expectativa é que em 2025 a produção cresça quase 60% em relação a 2024. Esse crescimento se deve em função das áreas plantadas e colhidas e do rendimento médio, com previsão de aumento de 10,5% motivado pelos maiores investimentos em tratos culturais e insumos.

Preocupação dos empresários

As expectativas apresentadas pelos empresários diferem dos agentes públicos, pois a classe está reticente e preocupada com a situação atual da economia acreana, e não muito otimista quanto ao ano de 2025.

Citam que faltam políticas públicas continuadas de estado e avaliam que em 2025, mesmo se houver algum crescimento, puxado pela construção civil, não se sustentará nos médio e longo prazos.

A dificuldade para obtenção de crédito, o custo do dinheiro (juros), as constantes elevações do dólar, que influenciam na elevação de preços de insumos internos, as questões de logística, entre outras preocupações, são responsáveis pelas expectativas negativas.

Uma questão importante apresentada refere-se ao impacto negativo das apostas esportivas e cassinos on-line, conhecidos como “Bets”, que retiram recursos que circulariam na economia local. Para alguns empresários o fator é preocupante.

Para a classe, o volume de emendas parlamentares que vem para o Acre é considerado alto, mas o problema é que, em suas visões, essas emendas são trabalhadas de forma não sinérgica, sem planejamento, o que provoca baixo efeito multiplicador na economia.

Apareceram ainda preocupações relacionadas a infraestrutura, notadamente sobre a BR-364, Anel Viário e as alfândegas. Mesmo pessimistas, os empresários contam com a efetiva retomada em 2025 de programas governamentais federais, como a pavimentação das BRs e o programa “Minha Casa, Minha Vida”. De acordo com eles, notadamente pertencentes ao segmento de construção, esses programas poderão dar algum fôlego às empresas em 2025.

Um segmento que parece merecer atenção especial, de acordo com os relatos observados, é o de transporte e logística. Seus representantes apontaram na reunião um cenário extremamente desafiador e preocupante: gasolina cara, distância para os grandes centros, pouca infraestrutura de apoio, forte concorrência internacional e estadual (Peru, Bolívia, Rondônia, Amazonas). Se uma das saídas para o desenvolvimento estiver mesmo relacionado com o comércio internacional com os países andinos, esse segmento requer atenção dos governantes.

População preocupada com alimentação

Entre os dias 15 e 27 de janeiro de 2025, os pesquisadores entrevistaram 400 pessoas, sendo 200 homens e 200 mulheres, nos pontos de maiores fluxos da capital acreana. O delineamento amostral foi projetado com um nível de confiança de 95% e margem de erro de 4,9%, assegurando a representatividade e a precisão estatística necessárias para fundamentar as análises.

A alimentação é o item que mais preocupa os entrevistados, com 45,84% esperando um aumento nos preços e 30,23% um aumento significativo. Esse resultado reflete a sensibilidade dos consumidores em relação aos preços dos alimentos, que têm um impacto direto e imediato no orçamento familiar.

A habitação também é um ponto de grande preocupação, com 50,76% dos entrevistados prevendo um aumento nos custos e 18,69% um aumento significativo. Os demais itens apontados pelos entrevistados são

  • Transporte – 47,85% dos entrevistados esperam m aumento nos preços, possivelmente impulsionado pelo aumento dos preços dos combustíveis e das tarifas de transporte público;
  • Custos de saúde – quase 40% dos participantes os gastos com planos de saúde, medicamentos e serviços médicos tendem a subir acima da inflação geral;
  • Despesas pessoais, que incluem itens do dia a dia, também são vistas com expectativa de aumento (40,81%), o que sugere uma pressão generalizada sobre o custo de vida;
  • Educação – 34,26% esperando um aumento nos custos, que pode estar relacionado ao reajuste de mensalidades escolares e cursos, além de possíveis aumentos nos custos de materiais e serviços educacionais;
  • Comunicação, que inclui gastos com telefonia e internet, também é vista com expectativa de aumento (31,99%), possivelmente devido a reajustes tarifários e aumento da demanda por serviços digitais.
  • Custos de vestuário e artigos de residência também são vistos com expectativa de aumento, com 36,27% e 34,43% dos entrevistados, respectivamente, prevendo altas nos preços. Esses aumentos podem estar associados ao aumento dos custos de produção, logística e matéria-prima, além de possíveis ajustes nos preços de importação.

Compartilhe

Share on facebook
Share on twitter
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on linkedin
plugins premium WordPress