Por Opinião & Notícia – 06/05/2018
Nos métodos empíricos usados pelas concessionárias de abastecimento de água para localizar vazamentos em dutos subterrâneos, os funcionários seguravam hastes de escuta e forquilhas, que vibravam com o som do movimento da água. Atualmente, as empresas utilizam geofones, um equipamento acústico que detecta o local dos vazamentos. Mas é um trabalho lento, que exige dos operadores de geofone um ouvido experiente para distinguir o som de um vazamento do ruído normal da água que passa pelos canos.
Agora, a Stattus, uma startup brasileira localizada no município paulista de Sorocaba, recorreu à inteligência artificial (IA) para desenvolver um equipamento acústico de detecção de áreas com potenciais vazamentos. O equipamento é composto por um sensor móvel que grava e analisa a vibração da água que passa pelo duto, tendo como referência uma base de dados armazenada em nuvem.
De cada 100 litros de água captados pela rede de abastecimento no Brasil, quase 40 litros não chegam aos consumidores devido a vazamentos, hidrômetros defeituosos ou ligações clandestinas. Segundo estimativas, isso equivale à perda de 6,5 bilhões de metros cúbicos de água por ano, no valor de R$ 8 bilhões.
Na tecnologia desenvolvida pela Stattus, batizada de Fluid, o operador coloca o sensor sobre uma área da rede de abastecimento por 15 segundos para registrar as vibrações da água. Esses sinais são transmitidos para um aplicativo de smartphone, que analisa o registro de acordo com as informações do banco de dados. O funcionamento do Fluid assemelha-se ao do aplicativo de reconhecimento musical usado em smartphones, como o Shazam, disse Marília Lara, sócia da empresa. O sensor também capta ruídos inaudíveis para o ouvido humano.
Uma versão piloto do sistema Fluid está sendo usada em dez concessionárias de abastecimento de água, que fornecem 800 novas amostras de som por dia para o banco de dados, que já totaliza mais de 40 mil ruídos registrados. Esses registros de som permitem que o Fluid compare os ruídos captados em diversos pontos da rede, o que agiliza a localização dos vazamentos.
Na concessionária paulista Águas de Votorantim dois operadores de geofones demoraram dois anos para pesquisar a rede de abastecimento de água da companhia. Com três sensores do sistema Fluid, que rastrearam previamente os pontos de perda em potencial, foi possível reduzir esse tempo para quatro meses. E, ao contrário das hastes de escuta e das forquilhas, nesse método não existe o fator sorte e, sim, a precisão.