Por Gazeta do Povo – 29/07/2018
A guerra comercial do governo Trump de repente tornou a soja a commodity mais quente nos círculos políticos. Dados do Google Trends, por exemplo, mostram que as pesquisas por “soja” nos Estados Unidos estão atualmente próximas da maior alta histórica.
Se você quer se atualizar sobre o que hoje é a lavoura mais cultivada no Brasil e nos Estados Unidos, gigantes que dominam o comércio global de alimentos, não tenha medo: aqui está tudo o que você queria saber sobre a soja, mas nunca teve coragem de perguntar.
1. Então, o que é a tal da soja?
Como o nome em inglês indica (soybeans), a soja (soy) é um membro da família dos feijões (beans). Ela cresce em pequenos arbustos frondosos que florescem e produzem vagens verdes difusas, cada uma contendo cerca de três grãos.
Aquelas vagens verdes de feijão não são colhidas até que sequem no pé e fiquem douradas. Quando as folhas caem, estão prontas para a colheita. A soja é colhida por enormes maquinários – colheitadeiras – que cortam as plantas e separam os grãos agora secos das vagens.
O produto final colhido é um pequeno grão que se assemelha a uma versão castanha de uma ervilha seca.
2. Para que serve a soja?
A maioria das pessoas se depara diariamente com inúmeros produtos alimentícios que utilizam a soja. Do processo de obtenção do óleo refinado de soja, obtém-se a lecitina, um agente emulsificante, muito usado para se produzir salsichas, maioneses, sorvetes, achocolatados, barras de cereais e produtos congelados.
O grande uso culinário, no entanto, é o óleo vegetal de soja. Se você está se perguntando se algum dia já consumiu algo à base de soja, a resposta quase 100% certeira é um sonoro “sim”.
Por outro lado, sempre que alguém come carne, isso representa, indiretamente, um grande consumo de soja e de milho, grãos básicos das rações para animais. Mais de 70% da produção de soja é utilizada para ração que alimenta frangos, porcos, vacas leiteiras, gado de corte e peixes.
A soja é ainda matéria-prima de indústrias dos mais variados segmentos, do cosmético ao farmacêutico, automobilístico e veterinário. Existem pneus à base de soja, adesivos, espumas, fibras e aditivos químicos. No Brasil, o óleo de soja representa mais de 80% da demanda total da fabricação de biodiesel, exigindo um esmagamento anual de 4 milhões de toneladas de soja.
3. Quem mais produz soja no mundo?
A liderança deve mudar de mãos na safra 2018/19. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, o Brasil deverá desbancar os EUA como maior produtor da commodity, atingindo 117 milhões de toneladas, contra 116,5 milhões dos americanos.
Em terceiro lugar está a Argentina, com 56 milhões de toneladas; depois a China, 14,1 milhões de toneladas; Índia, 10,8 milhões, Paraguai, 9,8 milhões e Canadá, 7,8 milhões de toneladas.
A renda obtidfa pela soja nos EUA, US $ 41 bilhões, é cerca de três vezes a receita anual total da liga de futebol americano (NFL).
Os Estados Unidos e o Brasil respondem por 80% do comércio internacional da commodity. Sozinho, o Brasil detém 44,2% das vendas globais e, os Estados Unidos, 37%.
4. E o que a guerra comercial de Trump têm a ver com isso?
É aí que a coisa pega: de acordo com dados do USDA, quase metade da produção de soja dos EUA é exportada para o exterior. Se outros países decidirem reduzir suas importações de soja dos EUA ou aplicar tarifas alfandegárias em resposta às sobretaxas de Trump (sobre o aço e alumínio, por exemplo) , isso pode ter efeitos econômicos não apenas para os produtores de soja americanos, mas também para outras indústrias, como as de carne bovina e de aves, que dependem da soja.
Por isso nunca se falou tanto sobre a soja nos noticiários dos Estados Unidos. Os agricultores estão no meio de uma disputa entre o governo Trump, que acredita que tarifar produtos estrangeiros será bom para os consumidores e produtores dos EUA, e outras nações, que estão retaliando com suas próprias tarifas.
Por essa razão, Trump anunciou nesta semana um pacote de US $ 12 bilhões em ajuda a agricultores apanhados no fogo cruzado desta guerra comercial.
Apesar de oferecerem o mesmo produto no mercado internacional, Brasil e EUA vivem momentos distintos em relação à cotação da soja. Nas primeiras semanas de julho, o preço da soja embarcada em Paranaguá estava pagando US$ 2,21 por bushel, acima da cotação futura em Chicago, de US$ 7,79. A diferença foi provocada pelo “rally” dos chineses para comprar a soja brasileira, em função das sobretaxas ao produto americano.