O Acre enfrenta uma das maiores secas da história em 2023. Especialistas explicam que fenômeno El Niño, que aumenta temperaturas e reduz chuvas, é um dos mais intensos no estado acreano em 70 anos. Com este cenário e a estiagem prolongada, produtores rurais e agricultores têm perda nas produções e prejuízos.
Uma das produções prejudicadas é a de grãos, como milho e soja. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Acre (Faeac), Assuero Veronez, explica que a falta de chuvas atrasou o plantio de soja e milho em mais de 30 dias. Anualmente, o plantio destes grãos começa a ser feito entre o final do mês de setembro e início de outubro. Em 2023, os produtores iniciaram esse plantio no final de outubro e início de novembro.
“Nas áreas de soja, depois de colhida, imediatamente são plantadas o milho, a chamada safrinha de milho, que é muito importante para os produtores. Quando se atrasa o plantio da soja, como está ocorrendo agora por falta de chuva, atrasa a colheita e implica no prejuízo do milho safrinha, que tem uma janela de plantio que precisa ser obedecida. Se você não consegue plantar porque a soja não foi colhida, vamos ter um prejuízo lá na frente muito significativo porque a soja está atrasada”, destaca.
Destacando-se no cenário nacional na produção de grãos, quando introduziu o plantio de soja em 2017, Acre não depende mais das importações de soja dos estados de Rondônia e Mato Grosso. Os solos férteis, o clima propício e a localização geográfica estratégica fizeram do estado autossuficiente na produção. Contudo, segundo Assuero, esse cenário pode mudar e o estado acreano voltar a ser dependente das importações por conta da seca prolongada.
“Teremos uma redução no plantio de milho, na produção de milho. O Acre já era autossuficiente em milho, estávamos suficientes e até procurando mercado no exterior. Provavelmente, teremos uma produção menor e preço maior. A nossa atividade de produção de carnes, especialmente de pequenos animais como suínos e aves, é extremamente suficiente, mas agora, talvez, a gente volte a situação anterior”, lamenta.
Orientações
Como presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Acre, Assuero Veronez, orienta os produtores a não arriscarem muito neste período ao ponto de plantar a safrinha fora da janela, por exemplo, porque vai faltar chuvas para o milho produzir e, certamente, haverá prejuízos.
“A agricultura tem esse detalhe, tem os períodos certos de plantar e de colher, então, se a plantação atrasa, haverá diminuição de chuvas que não atenderá a demanda da cultura. Não podemos arriscar achando que o ano será diferente porque o clima não é uma atividade regulada. Aqui temos excesso de chuvas, que também é um problema na época da colheita e plantio da soja, e a seca”, diz.
Pecuária
Na pecuária, o cenário também não é diferente. Sem chuvas, Assuero acrescenta que os pecuaristas têm dificuldade em manter o rebanho porque as pastagens acabam e os animais sem espaço para ficar. Ele frisa também que os produtores vivenciam uma baixa no preço de arroba, portanto, os animais estão desvalorizados e, muitas das vezes, os produtores têm que vender o rebanho porque não tem onde segurar os animais por falta de pastagem.
“No Acre, há regiões que possuem os igarapés intermitentes, que secam na época do verão e isso dificulta porque a pecuária trabalha com açudes que, normalmente, são abastecidos com água da chuva e, com o tempo, essa água vai evaporando ou vai sendo consumida pelo gado. Se não tem chuva, há esse desabastecimento para os animais. É preocupante”, pontua.