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A (nova) economia do impacto

Por Inês Santos Silva – OBSERVADOR – 17/04/2018

Cada vez mais os consumidores valorizam produtos que geram impacto positivo. E os melhores talentos, principalmente os ditos millennials, acreditam que as empresas podem e devem ter esse impacto.

No último ano têm surgido inúmeras notícias de fundos de investimentos, grandes bancos e empresas que estão a valorizar cada vez menos os resultados trimestrais (curto prazo) dos seus ativos e têm um foco cada vez maior nos resultados de longo prazo e no impacto positivo que estes ativos podem ter na sociedade.

Para os mais distraídos, esta mudança pode parecer descontextualizada a até descabida. Tradicionalmente, é sabido que os investidores querem “apenas” que os CEO maximizem os resultados económicos para os acionistas. Mas será mesmo assim? Estes fundos de investimento, bancos e empresas não estão a mudar, na expectativa de perderem dinheiro, fazem-no porque sabem que quando olhamos para os resultados, rapidamente percebemos que as empresas com melhor performance são também aquelas que se preocupam com o seu impacto ambiental e social de longo prazo. E porquê? Porque cada vez mais os consumidores valorizam produtos que geram impacto positivo; o melhor talento, principalmente os ditos millennials (onde eu me incluo) acreditam que as empresas podem e devem ter um impacto positivo no mundo e por isso, tendo essa possibilidade, optam por trabalhar em empresas responsáveis; e uma missão ou um propósito maior gera uma motivação e incentivo adicional para o dia-a-dia das equipas.

Isto até pode parecer uma realidade muito distante da nossa, mas estamos rodeados de marcas e empresas que já integram esta forma de pensar no seu dia-a-dia. Ainda recentemente a Adidas anunciou que em 2017 vendeu um milhão de pares de sapatilhas feitas de plástico recolhido nos oceanos; a Ecoalf, uma empresa espanhola usa redes de pesca e plásticos recolhidos no oceano para produzir roupas e malas, e até já tem como clientes, Marc Jacobs, Gwyneth Paltrow e will.i.am; a Natura, a Etsy e a Ben & Jerry são algumas das já muitas empresas certificadas como B Corporations, ou seja, empresas que se comprometem não só a maximizar o lucro, mas também o impacto positivo na sociedade; e a Patagonia, empresa americana de vestuário para além de todas as preocupações que tem com a produção dos seus produtos, tem ainda um website onde explica como reparar as suas peças, porque o objetivo é produzir roupa que seja para toda a vida.

Eu poderia continuar a enumerar exemplos que mostram que algo está a mudar, mas é importante chamar a atenção que aqui não estamos a falar nem de responsabilidade social, nem mesmo de empreendedorismo social. Isto são empresas responsáveis (termo cunhado pela Patagonia) que querem maximizar o retorno para os seus accionistas, mas que também querem garantir que no pior dos cenários, o seu impacto ambiental é zero (nem positivo nem negativo) e que existe um impacto social positivo.

Assim, tal como alguns fundos de investimentos, grandes bancos e empresas, estão a apelar por um maior foco no longo prazo e na geração de impacto positivo na sociedade, termino, fazendo minhas as palavras de Rodrigo Tavares, Young Global Leader do World Economic Forum e Fundador do Granito Group, que recentemente num evento no Impact Hub de Lisboa, apelou aos empreendedores que criem startupsresponsáveis, porque para além desta ser a melhor forma de serem bem sucedidos nesta segunda década do século XXI, a verdade é que tal como dizem os fundadores da Ecoalf, não existe “Planet B”.

*Inês Santos Silva tem 28 anos e nos últimos anos tem sido uma das mais ativas dinamizadoras do ecossistema de empreendedorismo nacional. Juntou-se ao Global Shapers Lisbon Hub em 2013 e é presença assídua em eventos do Fórum Económico Mundial, tendo já participado nos eventos de Davos (Suíça) e de Tianjin (China).

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