Adoção de tecnologias sustentáveis transformam indígenas em produtores de cafés especiais na Amazônia

EMBRAPA – 12/09/2019

Com cafés de aromas e sabores exóticos, direto da floresta, cafeicultores indígenas de Rondônia são premiados na primeira edição do Concurso Tribos, realizado pelo Grupo 3 corações. A parceria entre iniciativa privada e demais instituições governamentais neste projeto estão transformando a realidade de comunidades na Terra Indígena Sete de Setembro, localizada no município de Cacoal, e Terra Indígena Rio Branco, em Alta Floresta D’Oeste.

Foram inscritas neste concurso 64 amostras e 61% delas foram classificadas como cafés especiais, com notas acima de 80 pontos na metodologia da Associação Americana de Cafés Especiais (SCAA), reconhecida mundialmente. “A qualidade excepcional destes cafés demonstram o potencial dos Robustas Amazônicos e como o uso de tecnologias sustentáveis podem fazer com que os indígenas transformem sua realidade”, comenta o pesquisador da Embrapa Rondônia e especialista em qualidade de café, Enrique Alves.

Trata-se de uma verdadeira quebra de paradigmas. Segundo o pesquisador, muitos não acreditam na qualidade de bebida do café canéfora (conilon e robusta) e no empreendedorismo indígena, assim como em sua capacidade em praticar atividades mais elaboradas. Mas os resultados obtidos ao longo dos últimos anos têm demonstrado o contrário. “Estes povos estão utilizando tecnologias modernas de processamento dos frutos como, por exemplo, as fermentações conhecidas como ‘Sprouting Process’, que intensificam os atributos como doçura e acidez do café, gerando bebidas, complexas, exóticas e que poderão ser muito apreciadas mundialmente. É uma nova era para os robustas e conilons finos e Rondônia tem dado exemplo”, ressalta Alves.

A equipe de degustadores profissionais que avaliou as amostras do concurso Tribos foi composta por especialistas renomados de diversas regiões produtoras do País. Para o coordenador do grupo, os resultados da avaliação das bebidas surpreenderam e representam um marco para o reconhecimento da qualidade dos Robustas Amazônicos. “Identificamos grande variabilidade de sabores e cafés de características sensoriais ricas e complexas. O resultado que provamos nas xícaras vai impressionar todo o Brasil”, destaca especialista em cafés especiais e embaixador do projeto Tribos, Silvio Leite.

Os resultados obtidos neste concurso são frutos de diversos treinamentos de colheita e pós-colheita que foram realizados pela Embrapa Rondônia, em parceria com a Emater-RO, técnicos da Secretaria de Agricultura de Alta Floresta D’Oeste e Cacoal e especialistas do Grupo 3 corações. “Em poucos meses, foi possível modificar o perfil sensorial dos cafés produzidos por estas etnias indígenas de forma excepcional. Nas próximas fases do projeto será dada ênfase também no manejo sustentável do café com foco na conservação do solo, mananciais e florestas e na redução do uso de agroquímicos”, explica Enrique Alves.

Campeões do Concurso Tribos

O cafeicultor Yamixãrah Suruí, da Aldeia Tikã, da Terra Indígena Sete de Setembro, ficou com o 1° lugar. O café dele obteve 89,63 pontos com notas de chocolate, caramelo e frutas amarelas. Este café foi comprado por R$3.000,00 cada saca e ele recebeu mais R$25.000,00 de prêmio em dinheiro. Em 2° lugar ficou o cafeicultor Valcemir Canoé, com  89,38 pontos, com notas de ameixa, uva passa, conhaque e chá preto. Ele é da Aldeia São Luiz, localizada na Terra Indígena Rio Branco, em Alta Floresta D’Oeste. A compra das sacas foi por R$2.000,00 cada uma e recebeu mais R$15.000,00 em dinheiro.

O 3º lugar foi para o cafeicultor Erivelton Mopimoy Surui, com 88,94 pontos, com notas de tâmaras, doce de leite, guaraná e cravo. Ele é da Aldeia Joaquim, da Terra Indígena Sete de Setembro, em Cacoal. O Grupo 3 Corações adquiriu este lote por R$1.000,00 cada saca e ofereceu mais R$10.000,00 de premiação. Segundo os organizadores, o nível da qualidade foi grande e o Grupo 3 corações abriu uma exceção no regulamento, premiando também o 4º e o 5º melhores cafés, com R$5.000,00 cada, sendo ganhadores os cafeicultores Mehpey Suruí, com 87,06 pontos, e Joel Suruí, com 86,88 pontos, respectivamente.

O evento contou com a participação de cerca de 400 indígenas, além da presença do governador de Rondônia, Marcos Rocha e demais autoridades. Representantes de todas as instituições parceiras do projeto Tribos também estavam presentes.

Para Pedro Lima, presidente da Companhia, “ao longo dos 60 anos de história do Grupo 3 corações, buscamos parcerias genuínas e duradouras. Este é um projeto que caminha neste sentido e, além disso, traz ousadia e inovação na criação de oportunidades. Estamos construindo o Projeto Tribos com responsabilidade e cuidado em cada atitude, sempre visando os pilares ambientes, sociais e econômicos. Como maior empresa de cafés do país com 27% de Market Share, procuramos desenvolver a cadeia produtiva do café e este projeto é uma oportunidade única de uma iniciativa sustentável que cria valor para todos os envolvidos”.

Café na aldeia – Projeto Tribos

Produtores de cafés já há mais de 30 anos em Rondônia, os indígenas têm cultura, tradição e níveis de relação com o ambiente muito amplo e diferenciado. A melhoria da qualidade de vida dessas populações, assim como sua inserção social, é questão de política pública e uma demanda antiga desse conjunto de etnias remanescentes no País. O projeto Tribos se baseia no conceito de que a agricultura sustentável pode ajudar a proporcionar o equilíbrio entre a obtenção de recursos financeiros, melhoria de vida nas aldeias, protagonismo dos indígenas e a preservação da floresta. Nesse contexto, a cafeicultura é uma boa escolha, pois, se adapta tanto a cultivos a pleno sol quanto arborizado e possui alta rentabilidade por área, resultando em menor dependência de grandes lavouras para proporcionar a viabilidade do módulo produtivo.

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