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Agricultura 4.0: ferramentas tecnológicas ganham espaço e mercado no campo

Por Correio 24 Horas – 24/03/2019

Na palma da mão, aplicativos dão estimativa de safra por satélite, identificam pragas nas plantas a longa distância, medem o peso do boi através da leitura da carcaça, e indicam qual o melhor momento para aplicar o adubo ou ativar os equipamentos de irrigação.

São os frutos das Agtechs, empresas de tecnologia aplicada à agricultura, especializadas em desenvolver ferramentas digitais para a área rural. Não há números oficiais, mas o relatório anual do site Agfunder, especializado em agricultura de precisão, mostrou que houve um crescimento de 43% nos investimentos em Agtechs no ano passado no Brasil. Segundo o estudo, as startups focadas no agronegócio captaram mais de US$ 17 bilhões em 2018.

Por enquanto elas representam apenas 2% das empresas cadastradas na Associação Brasileira de Startups (ABStartups), mas diante das pesquisas que apontam uma demanda mundial crescente por alimentos, estas empresas estão se tornando ainda mais valiosas. A maioria apresenta soluções que auxiliam no aumento da produção agrícola por meio da inovação e da economia de recursos naturais. Na Bahia, o mercado Agtech está em plena fase de expansão, e começa a estar presente nos lugares mais remotos através de aplicativos voltados para o homem do campo.

Aplicativo protetor

Numa fazenda produtora de soja e algodão no município de Barreiras, Oeste da Bahia, um aplicativo está sendo usado para monitorar a pulverização, que é a aplicação de defensivos químicos para combater pragas e doenças. Instalado no avião pulverizador, o suporte tecnológico monitora o voo a cada dez mil hectares, e depois transforma os dados em indicadores que traduzem as condições da área e quais pontos ainda precisam ser pulverizados. Se não fosse o aplicativo, os funcionários da fazenda teriam que encontrar outra forma de monitorar as extensas lavouras.

“Ele faz o controle, depois transforma os dados em índices que ajudam a avaliar como está a operação, indicando os pontos que ainda têm problemas. Isso ajuda a economizar tempo e evita que a gente tenha que realizar ações desnecessárias em grandes áreas”, afirma o produtor rural Paulo Schmidt, que está testando o equipamento na fazenda da família.

A ferramenta é o Perfect Flight, desenvolvido para monitoramento aéreo agrícola. Ele tem tecnologia de georreferenciamento e aponta exatamente a quantidade ideal de defensivos que deve ser utilizada, em quais pontos o produto deve ser aplicado, e em quais as áreas de proteção ambiental do entorno que precisam ser preservadas. A aplicação oi desenvolvido há 4 anos por uma empresa especializada em ferramentas tecnológicas para empreendedores rurais.

“Nossa solução para a gestão da aplicação aérea de defensivos agrícolas partiu da percepção da falta de controle sobre a aplicação. Os índices de assertividade prévios ao monitoramento eram de 60%. O Perfect proporcionou índices próximos a 90%, com a preservação de áreas ambientais”, explica Leonardo Luvezutti, gestor de operações da Perfect. O preço da inovação varia por área percorrida, em média R$ 1,20 por hectare. Desde que foi criado, a ferramenta já foi utilizada para monitorar mais de dois milhões e meio de hectares em cerca de 17 fazendas do Matopiba, área que reúne partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

Sensores atentos aos detalhes

Antes da máquina começar a percorrer a plantação, um aplicativo instalado na plantadeira indica como está a umidade do solo e as curvas de nível do terreno. Ele traça sozinho linhas de tráfego, e indica o caminho que a máquina, com piloto automático, deve percorrer para evitar a compactação do solo e não sobrepor sementes. O aplicativo é o Agrocad, um software que faz parte de um pacote de soluções tecnológicas agronômicas, chamadas de Farm Solutions. O pacote inclui ainda a plataforma Inceres, que, instalada no celular, coleta dados e analisa a fertilidade do solo.

As duas ferramentas de agricultura de precisão foram desenvolvidas pela AGCO, fabricante e distribuidora mundial de equipamentos agrícolas, em parceria com a Tecgraf e a Inceres, empresas especializadas no controle de tráfego de máquinas, plantio, colheita e gerenciamento do solo. “Com a demanda crescente por alimentos, é preciso fazer uma agricultura mais eficiente. Como nós estamos em um clima tropical, existe uma preocupação com a compactação do solo. Estas ferramentas baixam imagens de satélite, e através de telemetria transfere os dados para o celular. Isso permite fazer um projeto de cada canto onde a máquina vai passar, tem melhor aproveitamento da logística e utilização de práticas conservacionistas e sustentáveis”, afirma o supervisor de marketing da AGCO, Niumar Dutra Aurélio.

As ferramentas digitais estão vindo embarcadas nas máquinas das marcas Massey Fergusson e Valtra. O preço da tecnologia varia de 5 a 15% do valor total dos equipamentos. Para se ter uma ideia, uma colheitadeira média custa cerca de R$ 3,5 milhões. Ano passado, a AGCO teve receita líquida de vendas de US$ 9,4 bilhões. A marca detém 40% das vendas de colheitadeiras na região do cerrado, e já anunciou que vai lançar novos suportes digitais para aplicação nas culturas de cana de açúcar, soja, milho, algodão, café e citrus, ainda em 2019.

Driblando a desconexão

Na Fazenda Panorama, em Correntina, no Oeste da Bahia, aplicativos de celular estão conectando 23 maquinas agrícolas e 10 coletores de dados, aqueles equipamentos portáteis usados para anotar informações de campo. Assim o técnico que percorre a plantação consegue compartilhar como está a lavoura. O sistema permite acompanhar em tempo real as máquinas que estejam dentro dos 22 mil hectares da propriedade.

Isso tudo está sendo possível em uma área rural onde a conexão celular original é precária, a intensidade de sinal é fraca, e muitas vezes os agricultores se sentem isolados. Problemas que atingem parte dos produtores rurais que atuam em lugares mais distantes das cidades, como o CORREIO mostrou em reportagem publicada semana passada. A implantação de um sistema eficiente de comunicação dentro desta fazenda está sendo possível graças a um projeto piloto realizado através de uma parceria entra a TIM e SLC Agrícola, dona da fazenda.

Para implantar a tecnologia 4G no campo, o projeto incluiu a instalação de uma torre nova de celular dentro da fazenda, e o chamado backhoul, um conjunto de conexões que inclui suportes em fibra ótica e rádios transmissores para facilitar a comunicação por voz e a conectividade entre as colheitadeiras. O investimento revela a preocupação em atender um setor considerado estratégico para a economia brasileira.

“Percebemos que o agronegócio vem crescendo através do uso de máquinas automatizadas e inteligentes, mas ainda desconectadas. Por isso criamos este projeto para conectar o campo, as máquinas e as pessoas, sejam em grandes ou médias fazendas. Nós usamos o 4G, através de uma frequência mais baixa de 700 Mhz, que permite grandes coberturas em regiões planas”, explica Alexandre Dal Forno, gerente de produtos corporativos da TIM Brasil.

O uso da agricultura digital vem facilitando os negócios da fazenda, uma das maiores produtoras de commodities agrícolas do país, principalmente algodão, soja e milho. “Os resultados até o momento são surpreendentes. A rede nos possibilita fazer videoconferências em alta velocidade e com qualidade, diretamente das colheitadeiras, onde antes não tínhamos qualquer tipo de sinal celular. A conexão das máquinas em tempo real e a comunicação da equipe deve trazer agilidade e maior produtividade aos nossos processos, em linha com o nosso objetivo de contribuir para o crescimento do Agronegócio brasileiro através da inovação de novas tecnologias”, explica Angelo Castiglia, Diretor de Tecnologia do grupo SLC Agricola.

Em Correntina, oeste da Bahia, sistema 4G no Campo permite conectar colheitadeiras e comunicação por voz no meio da plantação. (Foto: divulgação)

Aliados da Ciência

O desenvolvimento de aplicativos voltados para a agricultura vem ganhando força também entre os cientistas e pesquisadores das ciências agrárias. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) já possui no portfólio 32 aplicativos criados para auxiliar o trabalho no campo e a produção de alimentos. Ideais para tablets e smartphones, e compatíveis com sistema operacional para Android, IPhones e IPads, os suportes possuem funções variadas. Desde nutrição animal, acompanhamento da meteorologia, orçamento, produção de gado de corte, até para gestão informatizada de produção de leite.

Um dos mais procurados é o “Doutor Milho”, que identifica o estágio de desenvolvimento das plantas, acompanha a lavoura e auxilia no aumento da produtividade. Outro muito utilizado é o “Custo Fácil”, uma ferramenta simples que ajuda os produtores rurais na gestão e na assistência técnica de granjas. Através dele dá para estimar o custo de produção e a rentabilidade do negócio, seja de frangos ou de suínos.

Uma das ferramentas mais recentes, o SIMPmamão, foi criado no ano passado pelos pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas, para monitorar pragas do mamoeiro, cultura abundante no estado. “É um conjunto de ferramentas que se tornam grandes aliadas do saber. Porque esta é a lógica da informática da agricultura. Os aplicativos se baseiam na alimentação de dados vindos do conhecimento humano. Eles permitem que se tenha acesso a muitas informações rapidamente, e a instrumentos capazes de interpretar os dados que foram pesquisados durante muitos anos. Assim, nós programamos a máquina para interpretar os sinais, mostrar, por exemplo, que há algo errado com a planta”, afirma Alberto Duarte Vilarinhos, Pesquisador e Chefe-geral da Embrapa Mandioca e Fruticultura.

Os aplicativos podem ser acessados através do Portal Embrapa. O download é gratuito.

Os aplicativos da Embrapa estão disponíveis para Download gratuito para Android, iphones e ipads. (Foto: divulgação)

“Estamos desenvolvendo agora três novos aplicativos para identificação de doenças, um para adubação, e aprimorando o SimpMamão”, completa Vilarinhos. E não para por aí. Ainda em 2019, os cientistas da Embrapa vão realizar um Hackathon, uma espécie de maratona com desafios entre programadores que deverão criar softwares específicos para fruteiras. O evento vai ser realizado em Salvador.

Aplicativos Agrícolas

Agritempo: É um aplicativo móvel com sistema de monitoramento agrometeorológico que fornece informaçõs de diversos municípios e estados. Informa sobre a situação climática e traz recomendações sobre zoneamento agricola de riscos climáticos. Disponível para todos os dispositivos.

Accu Weather: Previsão do tempo, noticias sobre acontecimentos meteorológicos, imagens de satélite. Disponível em 100 idiomas e para Android e iOS.

Weedscount: Aplicativo que reconhece plantas daninhas a partir de fotos. Dispositivo disponível para iOS e Android.

Boi na Linha: Aplicativo sobre produtividade na pecuária, e para compra e venda de gado. Inclui fotos e vídeos dos rebanhos a venda, localização da fazenda. Gratuito, está disponível para Android e iOS.

Lynx Dashboard: Cria um banco de dados com informações para auxiliar o produtor rural na gestão financeira, administrativa e produção da fazenda. Esta disponível para Android e iOS.

Adamo Alvo: Desenvolvido para identificar pragas e doenças na soja, trigo, milho, algodão, cana de açúcar e café. Compatível com todas as plataformas.

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