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Brasil investe abaixo da média mundial em internet das coisas

Por Bruno Rosa – O Globo Economia – 20/08/2018

O baixo nível de investimentos em telecomunicações no Brasil nos últimos anos vai fazer com que o país chegue atrasado na corrida mundial da chamada internet das coisas. Enquanto vários países aceleram os planos para lançar redes ultrarrápidas que permitem ampliar a conexão de objetos para gerar ganhos de produtividade, o Brasil destina menos recursos que a média mundial. Estudo da Huawei, gigante chinesa de infraestrutura de telecom, aponta que por aqui o ritmo de expansão de fibra ótica é cerca de um terço do que é feito no resto do mundo. A oferta de data centers é outro gargalo: cresce no Brasil a um ritmo 50% menor que a média internacional.

Esse cenário já se reflete na projeção de crescimento da internet das coisas no país. Dados da GSMA, a associação internacional do setor de telefonia, apontam que o volume de objetos conectados no Brasil vai aumentar 13% até 2022, para 266 milhões de aparelhos em geral, incluindo carros e eletrodomésticos, por exemplo. A previsão é inferior à de países desenvolvidos como Estados Unidos (45%), França (32,5%) e Alemanha (23%). O país também fica atrás de emergentes como China (28%) e México (19%).

Para Julio André Sgarbi, consultor da Huawei para a América Latina, o Brasil investe pouco na preparação para a economia digital. Ele explica que o país precisa desenvolver uma infraestrutura que permita a criação de um ecossistema para a internet das coisas envolvendo operadoras de telecomunicações, fabricantes de dispositivos e indústria:

— O investimento hoje é centrado na estratégia das teles, que é a telefonia móvel. O resto acaba ficando em segundo plano. Veja o caso dos data centers, necessários para a economia digital. As empresas até fizeram um investimento, mas como o retorno inicial não foi o planejado, pisaram no freio. O Brasil hoje investe bem menos que o necessário para se tornar uma economia digital.

Potencial de crescimento

Se o país está atrasado, por outro lado o potencial de crescimento é alto, dizem empresas do ramo. Bertrand Ramé, vice-presidente da Sigfox, uma companhia especializada em objetos conectados que tem a espanhola Telefónica entre os acionistas, diz que o plano da companhia é largar na frente, criando soluções e fomentando o mercado no Brasil. Ele cita casos como sensores na agricultura que ajudam a aumentar a produtividade da plantação ou de equipamentos nas lixeiras das cidades que ajudam a medir o volume do lixo, ajudando a reduzir os custos com coletas desnecessárias. Mais para isso ocorrer, afirma, é preciso aprofundar a relação entre teles e fabricantes de equipamentos.

— Serão investidos no Brasil mais de US$ 50 milhões até 2019 na construção de rede. Mas é preciso buscar mais parceiros. É isso que estamos fazendo agora. Temos que incentivar a produção de sensores no Brasil. Hoje, a Europa tem mais potencial, pois a rede é mais desenvolvida. Aqui, estamos ainda desenvolvendo — destaca Ramé, que pretende chegar a 60 países até dezembro deste ano.

Com a chegada da rede 5G ao Brasil, Amadeu Castro, diretor da GSMA no país, lembra que será preciso aumentar o número de antenas no país. Hoje, há cerca de 90 mil unidades, segundo a Telebrasil, associação das companhias do setor. Castro lembra que a chegada de objetos conectados vai exigir uma rede de maior capacidade.

— Hoje já temos uma carência com o 4G. E com o 5G isso vai aumentar, pois mais capacidade vai exigir mais antenas, que vão consumir mais eletricidade. No futuro, para que o país seja de fato uma economia digital será preciso ter antenas ao longo das ruas para que os objetos fiquem de fato conectados — afirma Castro.

Chris Battalard, presidente-executivo da operadora WND, que é focada em internet das coisas, lembra que é preciso estimular a própria demanda no Brasil. Ele lembra do potencial de setores como agricultura, logística e transporte. Por isso, a companhia, diz ele, vem instalando rede em municípios com mais de 200 mil habitantes e cidades do Centro-Oeste, polo do agronegócio. Hoje, a empresa já está presente em 500 cidades no Brasil. Com sede no Reino Unido, a companhia atua ainda em dez países da América Latina.

— A tecnologia vai permitir um avanço da produtividade. Por isso, é importante escolher os setores que serão desenvolvidos e fornecer soluções, como a agricultura. Vamos investir US$ 80 milhões até o final de 2019 em todo o mundo. E o Brasil vai representar cerca de 60% desse total. O maior desafio é desenvolver uma tecnologia que seja barata o suficiente para que as pessoas consigam tê-las em seu dia a dia — diz Battalard.

Não basta a rede

Mas não basta apenas oferecer internet, argumentam consultores. O especialista Christopher Fourtet avalia que é preciso desenvolver sistemas com inteligência artificial capazes de processar e refinar os dados que navegam na rede, o que tende a tornar os investimentos mais altos. Para ele, a infraestrutura, como a fibra ótica, precisa ser capaz de processar esse tipo de informação em tempo real para centenas de milhares de aparelhos conectados:

— Esse é o próximo desafio. A rede precisa fazer seu próprio processamento. O setor precisa buscar novas tecnologias. O próximo passo é começar a desenvolver soluções que não necessitem de baterias e que consigam acumular energia com o sol. Já existem soluções sendo feitas nesse sentido. Sem isso, não haverá avanços sobretudo em países onde o investimento é baixo. O investimento em pesquisa é essencial para que essa transformação ocorra.

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