Por Isabella Carvalho – StartSe – 17/10/2018
O velocidade com que a China ingressou na Nova Economia, por meio de suas empresas de base tecnológica, tem impressionado a todos. Depois de passar uma temporada em Shenzhen, conhecida como a cidade da inovação, José Renato Domingues, diretor executivo de pessoas, sustentabilidade e inovação da Tigre, notou que o empreendedorismo é muito forte no país. “Há um incentivo de formação de startups e empreendedores, com mentorias dos mais experientes. Aqueles que querem abrir uma empresa têm apoio e conhecimento”, conta o executivo.
Em 2014, Li Keqiang, primeiro-ministro e chefe de governo da China mencionou pela primeira vez um termo que se tornaria comum no país: o empreendedorismo em massa. Naquele ano, a quantidade de companhias recém-fundadas na China cresceu quase 46%, para 3,65 milhões. Foi então que o governo chinês reconheceu rapidamente que esse era um dos caminhos para potencializar a economia do país. Assim, comprometeu-se a incentivar o setor por meio de políticas que favorecessem o pequeno e médio empreendedor.
Entre as ações colocadas em prática estavam a isenção de tributos às empresas que criam novas tecnologias e produtos, a implementação de internet em todo o país para que os empreendedores pudessem expandir seus negócios e se conectar com o mundo todo e a eliminação de barreiras na compra e venda de tecnologia. Com o passar dos anos, a China se tornou referência mundial, considerado por muitos o novo Vale do Silício.
O que falta no Brasil?
“Algo que notei na China que não temos no Brasil é a formação e preparação dos jovens. Ficamos refém de um modelo de sucesso de empreendedorismo muito estimulado nos últimos 20 ou 30 anos – que é do empreendedor de rua, que nasce como um ambulante ou monta um pequeno comércio”, diz Domingues. Segundo ele, é essencial que o Brasil tenha o incentivo e a profissionalização daqueles que desejam empreender com tecnologia.
“Hoje, a preocupação do Brasil é formalizar as novas empresas para que elas paguem mais impostos e gerem empregos formais. Na China, não há essa preocupação. Eles querem que o empreendedor esteja cada vez mais voltado para inovação”, explica o executivo. Para ele, isso faz toda a diferença, já que mesmo as empresas mais tradicionais abertas no país acabam se relacionando de alguma forma com a tecnologia. “O dono de um petshop, por exemplo, é estimulado a fazer negócios por meio de um aplicativo, a manter sua rede de clientes no Wechat e desenvolver sua empresa de forma diferente”, conta Domingues.
Com pouco incentivo, grande parte dos brasileiros acabam presos na Velha Economia. Entre os principais entraves para empreender no Brasil estão a burocracia e falta de incentivo do governo. O relatório Doing Business 2017, que classifica os países por grau de facilidade para fazer negócios e abrir empresas, apontou que o Brasil ocupa a 176ª posição em um ranking de 190 países. O tempo médio para abertura de um negócio no país é de 79,5 dias e são necessários 11 procedimentos para realizar a formalização. Na China o tempo cai para menos de um terço disso, com 22 dias e sete procedimentos. Em Hong Kong, o tempo é ainda menor: em um dia e meio já é possível abrir uma empresa.
“O nível de burocracia atravanca muito o empreendedor brasileiro. Temos mercados extremamente regulados. É difícil ter inovação em um ambiente como esse. Na Tigre, temos muitos produtos que já poderiam ter sido lançados, mas que precisam de uma série de adaptações para atender normas brasileiras”, explica Domingues. Para o executivo, a essência da inovação é a velocidade. Sem isso, o contraste com a potência chinesa continuará evidente.
Para saber mais sobre o universo de startups da China e como o país se tornou o universo do hardware, confira a primeira e a segunda matéria deste especial. Conhecer o país – e a forma como os negócios são construídos por lá – é vital para a competitividade das grandes empresas brasileiras.
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