O mapa que mostra as mudanças sofridas pelos pontos de água doce do mundo

Por Camilo Rocha – Nexo – 21/05/2018

Cerca de dois terços dos habitats de águas doces do mundo se encontram sob ameaça, e em muitos dos casos a responsabilidade é humana. Estas áreas vão de glaciares de regiões polares a águas subterrâneas em áreas tropicais.

Um novo mapa da NASA, compilado de informações de satélites captadas ao longo de 14 anos, entre outras fontes, identificou 34 pontos de água terrestre que vêm passando por mudanças.

Fonte: Emerging trends in global freshwater availability. (https://www.nature.com/articles/s41586-018-0123-1)

O mapa faz parte de um estudo conduzido por cientistas da agência espacial americana. Segundo suas conclusões, áreas úmidas da Terra estão ficando mais úmidas e áreas secas, mais secas. Além da ação humana, mudanças climáticas e ciclos naturais estão entre os responsáveis, em maior ou menor grau dependendo da área. Muitas vezes, mais de um fator é responsável pelo fenômeno.

A principal fonte de dados são as observações realizadas entre 2002 e 2016 de um projeto chamado GRACE (sigla para “experimento de recuperação da gravidade e clima”) que uniu Estados Unidos e Alemanha.

Além destes dados, serviram ao estudo dados e imagens de outros satélites sobre chuva e superfície terrestre, mapas de irrigação e relatórios de atividades na agricultura, mineração e operações de represas. A combinação de todos estes conjuntos de informações possibilitou a análise dos motivos por trás das mudanças e de suas dimensões.

Em algumas áreas, como na Califórnia e no Noroeste da China, onde ficam metrópoles como Pequim e Xangai, é possível detectar a participação do extensivo uso da irrigação agrícola no esgotamento das reservas.

“É a primeira vez que usamos observações de múltiplos satélites para uma avaliação profunda de como está mudando a disponibilidade de água doce em toda a Terra”, explicou Matt Rodell, chefe do laboratório de ciências hidrológicas da NASA ao site da agência.

“Uma meta prioritária foi distinguir as mudanças no armazenamento de água terrestre causadas por variabilidade natural – períodos chuvosos e secos associados com o El Niño e La Niña, por exemplo – de movimentos associados às mudanças climáticas ou impactos humanos, como bombear água do solo de um aquífero a um ritmo maior do que a sua capacidade de reposição”, declarou o cientista.

Outro cientista da agência envolvido no estudo afirmou que o mundo está passando por “uma mudança hidrológica importante”. Para Jay Famiglietti, do Laboratório de Propulsão a Jato da agência, as áreas ficando mais “molhadas” estão perto dos pólos e nos trópicos. No outro extremo, dentro das áreas que estão ficando mais secas, “podemos ver múltiplos pontos críticos que resultam do esgotamento da água terrestre”.

Ele observou, no entanto, que é preciso mais tempo para entender os fatores que têm provocado essa redução no volume d’água em muitas destas regiões.

Em algumas áreas, como na Califórnia e no Noroeste da China, onde ficam metrópoles como Pequim e Xangai, é possível detectar a participação do extensivo uso da irrigação agrícola no esgotamento das reservas. No caso da Califórnia, houve a combinação da extração humana de água com um longo período de seca.

No Brasil, o estudo destaca períodos de seca e excesso de chuvas na Amazônia e a recente seca no Nordeste.

Onde está a água doce

A água doce é encontrada em lago, rios, no solo, debaixo da terra, na neve e no gelo. Quando geleiras derretem nos pólos, os níveis de água dos oceanos sobem.

A água doce serve como água para beber e para a agricultura. De acordo com o estudo da NASA, contabilizar as mudanças na disponibilidade da água doce é “essencial para se prever o abastecimento de comida, a saúde humana e dos ecossistemas, a geração de energia e instabilidade social”

Um estudo de 2010 estimou que cerca de 5 bilhões de pessoas moram em áreas onde a segurança hídrica pode ficar sob ameaça. Fatores como mudanças climáticas, crescimento populacional e atividades humanas contribuem para piorar esta situação, segundo a NASA. “Um desafio ambiental fundamental do século 21 poderá ser o gerenciamento sustentável mundial dos recursos hídricos”.

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