Por Katia Cardoso – EXAME – 18/04/2018
A prática que vem conquistando o mundo corporativo tem ajudado as empresas a motivar as equipes e identificar e corrigir problemas
A pesquisa conhecida como pulse ou pulso, um estudo pontual feito pelas companhias quando precisam mapear alguma tendência ou corrigir a rota de seus negócios, é cada vez mais empregada nas empresas. “Em geral, ela é aplicada para saber a percepção dos funcionários sobre um tema quando não é possível esperar pela pesquisa de clima”, diz Bruno Andrade, professor de gestão e liderança na Saint Paul Escola de Negócios, de São Paulo. São os casos em que o desejo é identificar questões mais sensíveis, como entender problemas de relacionamento com a liderança, buscar novas ideias ou estimular a cultura de transparência. “O pulso mede a eficácia de uma ação, pois traz respostas rapidamente. Mas é uma fotografia de um público específico”, afirma Andrade.
Uma das vantagens da pulse é a facilidade de aplicação. A empresa define o que quer saber, formula as perguntas com ajuda dos gestores das áreas e do RH e escolhe o grupo que vai responder anonimamente. Um software faz o trabalho de disparar e-mails com o link para o público-alvo. A maneira mais comum de aplicá-la é contratar um instituto ou companhia que faça esse trabalho.
César Nanci, diretor da Ágora Entertraining e Pulses, de Santa Catarina, explica que ela é ideal, sobretudo, em um mercado em que a informação circula velozmente e o perfil dos profissionais mudou. “Passamos, em média, 25% do tempo lendo e respondendo e-mails”, diz. “Então, as empresas necessitam de recursos que ajudem a motivar os colaboradores, verificar se estão alinhados e comprometidos. Assim, conseguem corrigir políticas ou benefícios.”
Na prática
A Sodexo, multinacional da área de alimentação e serviços, conseguiu ajustar a comunicação e melhorar o engajamento em suas 14 filiais no Brasil. A empresa realizou uma pulse há mais de um ano, num intervalo de tempo entre a pesquisa anual de clima, que é global e acontece a cada dois anos. Para realizá-la, a unidade brasileira teve que apresentar a proposta e receber autorização de um comitê internacional. Em vez de mera burocracia, esse cuidado visa evitar que as filiais localizadas em vários países promovam muitas pesquisas que tomam tempo dos funcionários e podem até enfraquecer a de clima. “No nosso caso, há quatro anos tínhamos um nível de engajamento de 90%, que caiu para 73%”, conta Rogério Bragherolli, vice-presidente de RH da Sodexo Benefícios e Incentivos “Nossa proposta era descobrir o que estava acontecendo para melhorar esses números.”
A pesquisa ajudou a perceber a dificuldade de acesso das filiais às informações da liderança. Detectado o problema, uma das ações foi organizar reuniões mensais e fortalecer a comunicação interna. Os índices, então, voltaram a subir.
Atualmente, são promovidas reuniões trimestrais nas filiais e a empresa continua investindo em uma comunicação clara com essas equipes. Bragherolli explica que a ferramenta permite promover outros levantamentos, como saber a opinião dos funcionários sobre a remuneração variável ou buscar ideias e insights para aumentar as vendas.
André Luiz Andersen, supervisor de crédito e cobrança da Intelbras, que atua na área de telecomunicações, explica que a pulse realizada no seu setor ajudou a conhecer melhor a equipe e, assim, implantar ações de forma mais rápida e efetiva. Na época, o objetivo era avaliar o clima e o engajamento dos funcionários. Como não era possível esperar a pesquisa de clima, que é anual, os gestores recorreram à pulse. “As ações que desenvolvemos com a equipe a partir dos resultados obtidos nos auxiliaram a alinhar expectativas, aumentar a motivação e entender a frequência ideal de feedbacks”, afirma Andersen. A análise dos dados coletados estimulou as chefias a criar duas grandes equipes no departamento: uma com foco na gestão de pessoas e a outra, em processos.
A empresa também capacitou líderes de projetos. “Com isso, os planos que demorariam anos para ser implantados começaram a sair do papel em seis meses”, diz Andersen. Embora seja uma tendência do mercado corporativo, o cuidado é não transformar a ferramenta em um recurso ao qual se recorre por qualquer motivo, para não criar a cultura do excesso de pesquisas e tirar a credibilidade da ferramenta.
3 passos para a pulse
Existem vários benefícios nesse tipo de pesquisa, mas é preciso tomar alguns cuidados antes de fazê-la
- Defina o objetivo, identificando o que pretende mapear com ela no curto prazo.
- Use o bom senso. Perguntar o tempo todo a opinião dos funcionários e não fazer nada com as informações coletadas leva à perda de credibilidade.
- Em geral, a pulse é feita com mais de 5 funcionários – quantidade mínima para um levantamento eficaz.
Fontes: Bruno Andrade e César Nanci