G1 – 12/02/2020
As vendas do comércio varejista cresceram 1,8% em 2019, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se da terceira alta anual seguida, embora tenha ocorrido uma desaceleração em relação ao ritmo de recuperação registrado em 2017 (2,1%) e 2018 (2,3%).
Mesmo após 3 anos de taxas positivas, o setor ainda não conseguiu recuperar as perdas de 2015 e 2016 e mostrou perda de fôlego na reta final do ano. Em dezembro, o volume de vendas no varejo caiu 0,1% na comparação com novembro, primeira queda mensal desde maio.
Durante a recessão, o setor acumulou uma perda de 10,2%. Nos três últimos anos, o ganho acumulado chegou a 6,3%, segundo a gerente da pesquisa, Isabella Nunes. Ou seja, o comércio brasileiro fechou 2019 em um nível de vendas 3,7% abaixo de seu pico mais alto, alcançado em outubro de 2014. O patamar é equivalente ao registrado em abril de 2015, ainda no início da crise. No pior momento, em dezembro de 2016, ficou 13,4% abaixo do pico.
Inflação e renda freiam compras em supermercados
Segundo o IBGE, o crescimento do setor em 2019 só não foi maior por conta do segmento de hipermercado, que foi o que impulsionou as altas de 2017 e 2018. As vendas do segmento, que acumulavam até novembro alta de 0,8% no ano, perderam ritmo em dezembro e fecharam o ano com avanço de 0,4%.
“As principais razões que levaram os hipermercados a perderem o protagonismo foram a pressão inflacionária e a renda do trabalho que não cresceu”, disse a pesquisadora.
Ela enfatizou que 40% da população ocupada em 2019 era de trabalhadores informais. “O trabalho informal tem renda menor que o formal e, portanto, não tem condições de aumentar a renda para impactar nas vendas”.
Sete das 8 atividades analisadas pelo IBGE tiveram resultados positivos em 2019, com destaque para as atividades de “Outros artigos de uso pessoal e doméstico” (6%), que engloba lojas de departamentos, óticas, joalherias, artigos esportivos e brinquedos, “Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria” (6,8%) e o segmento de “Móveis e eletrodomésticos” (3,6%).
A pesquisa do IBGE mostra ainda que no comércio varejista ampliado, que inclui veículos e materiais de construção, o volume de vendas cresceu 3,9% em 2019. A alta foi impulsionada pelo setor de veículos, motos, partes e peças (10%), enquanto material de construção teve avanço de 4,3%.
Desempenho de cada segmento em 2019
- Combustíveis e lubrificantes: 0,6%
- Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo: 0,4%
- Tecidos, vestuário e calçados: 0,1%
- Móveis e eletrodomésticos: 3,6%
- Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria: 6,8%
- Livros, jornais, revistas e papelaria: -20,7%
- Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação: 0,8%
- Outros artigos de uso pessoal e doméstico: 6%
- Veículos, motos, partes e peças: 10% (varejo ampliado)
- Material de construção: 4,3% (varejo ampliado)
Primeira queda mensal após 7 altas seguidas
Resultado de dezembro decepciona
A expectativa em pesquisa da Reuters era de alta de 0,2% em dezembro na comparação com o mês anterior e de avanço de 3,50% sobre um ano antes.
“A primeira leitura decepciona e acredito que isto deve realimentar a discussão no mercado de que o Banco Central deve cortar mais uma vez a Selic uma vez que a atividade não engata e a inflação permanece sob controle”, avaliou André Perfeito, economista da Necton.
Seis das 8 atividades pesquisadas no comércio varejista tiveram taxas negativas de novembro para dezembro, sendo que o que mais pesou no índice geral foram as vendas no segmento hipermercados e supermercados (-1,2%).
“Essa atividade, que tem peso de 44% no total do varejo, foi particularmente afetada pelo comportamento dos preços das carnes”, destacou Isabella.
Também pesaram no resultado de dezembro o recuo nas vendas de “Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos” (-2%), “Tecidos, vestuário e calçados (-1%)”, “Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação” (-10,9%); “Combustíveis e lubrificantes” (-0,4%) e “Outros artigos de uso pessoal e doméstico” (-0,1%).