Por Marcela Caetano – DCI – 09/05/2018
Internet das Coisas (IoT), conectividade, automação e outros termos, antes restritos ao universo dos escritórios, agora começam a conquistar e mudar também a forma de trabalhar no campo. Apesar do forte interesse dos produtores, o maior empecilho ainda é a falta de acesso à internet.
A cada ano, mais empresas que atuam no agronegócio têm se aliado a startups para ampliar a oferta de soluções que permitam uma agricultura mais precisa, sustentável e produtiva. Porém, essas novidades correm o risco de não trazer transformação real para o campo com as limitações de acesso à internet. “Sem a conectividade, estamos apenas brincando de colocar tecnologias nas máquinas. Se não transformarmos esses dados em informação para tomada de decisão, isso se torna uma coisa supérflua”, afirma o presidente da John Deere no Brasil, Paulo Herrmann.
A empresa anunciou na Feira Internacional de Tecnologia em Ação (Agrishow) em Ribeirão Preto (SP) que investirá na instalação de antenas que permitam acesso à internet ao produtor em parceria com a Trópico, que atua em telecomunicações.
Ao viabilizar esse acesso, a John Deere favorece que as informações obtidas por meio de sensores nas máquinas sejam armazenadas na plataforma de gerenciamento de dados online (batizada de Operation Center), lançada na Agrishow. Os dados poderão ser consultados pelo produtor, pelas revendas ou por profissionais do setor.
O projeto da fabricante terá início no final do ano com a instalação de torres em Mato Grosso. Cada equipamento tem alcance de 35 mil hectares e levará sinal de internet para máquinas agrícolas e outros dispositivos nas fazendas.
“Esse é o principal limitante hoje. As máquinas têm cada vez mais tecnologia embarcada, mas sem internet se perde a agilidade para aproveitar as informações”, afirma o gerente de marketing da John Deere, Maurício de Menezes.
Para a arquiteta de transformação digital da Logicalis, Rafaela Mancilha, o uso da Iot no agronegócio ainda tem muito a crescer, especialmente com a superação dessa barreira que é a dificuldade de conexão.
“O agronegócio é um dos poucos setores que encara essa tecnologia como estratégica”, afirma, citando o estudo IoT Snapshot, elaborado pela empresa. Segundo estimativa do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), o impacto do uso da IoT no campo deve ser de US$ 21 bilhões até 2025.
A empresa oferece alternativas de conectividade no campo e também um centro de operações, no qual o produtor pode armazenar as informações captadas por sensores em diferentes equipamentos de marcas distintas. “Muitos agricultores já possuem máquinas com sensores, mas não conseguem transformar os dados em informações úteis”, relata. “A tecnologia por si só não resolve os problemas do agricultor”, salienta Rafaela.
Futuro próximo
Essas novas tecnologias têm espaço para crescer ainda mais no País, avalia o diretor de desenvolvimento de produto e engenharia agrícola da CNH Industrial para América Latina, Sérgio Soares. “Há uma demanda muito grande por ganho de produtividade, devido ao alto custo de operação, falta de mão de obra e a necessidade de aumento da produção”, pontua Soares. “E ‘gestão’ de clima e de equipamentos é crítico para isso.”
Ele aponta entre as principais tendências em tecnologia no campo o aprimoramento da automação. “No futuro, espera-se que as máquinas possam reter informações e, ao identificar uma tendência, se antecipem e mudem seus ajustes”, explica. “Hoje, utilizamos um algoritmo mais simples, que permite uma regulagem automática, mas a tendência é que as máquinas tenham um certo nível de inteligência artificial”, acrescenta. A CNH apresentou um protótipo de trator autônomo em 2017, mas esta ainda é uma tendência de longo prazo, avalia Soares.
Na avaliação dele, a agricultura de precisão – que consiste no uso de tecnologias que permitam o uso otimizado de insumos para uma maior produtividade – ainda vai crescer muito no País. “Acredito que a análise dos dados coletados no campo pelas máquinas é a área que mais tem potencial de crescimento”, salienta. A CNH firmou no começo deste ano uma parceria com a Climate Corporation, subsidiária da Monsanto, para que seus clientes tenham acesso ao Fieldview, plataforma de agricultura digital que integra dados coletados por um dispositivo acoplado às máquinas.
Soares também aponta como tendência a criação de sistemas que permitam a troca de informações entre máquinas agrícolas e outros veículos utilizados nas propriedades. “Essa conversa não vai poder mais ficar restrita às máquinas agrícolas.”