Observatório do Desenvolvimento

Boletim de Conjuntura Econômica do Acre

Boletim Econômico: pesquisadores analisam os desafios e perspectivas do comércio internacional do Acre com o mercado andino

Gargalos na exportação são abordados durante estudo

O Fórum Empresarial de Inovação e Desenvolvimento do Acre e os pesquisadores da Fundação de Apoio e Desenvolvimento ao Ensino, Pesquisa e Extensão Universitária no Acre (Fundape) analisam os desafios e perspectivas do comércio internacional do Acre com o mercado andino. O estudo foi produzido pelo professor Carlos Estevão com base na coleta e sistematização de dados e informações secundárias realizadas em abril deste ano, bem entrevistas feitas a despachantes aduaneiros, pesquisadores, do diretor de Assuntos Aduaneiros da Zona de Processamento e Exportação (ZPE) do Acre e funcionários públicos da Alfândega de Assis Brasil no mesmo período.

O estudo é uma edição especial do Boletim de Conjuntura Econômica.

Os dados coletados durante a pesquisa ajudaram os pesquisadores a discorrerem sobre os principais problemas e as perspectivas em relação ao comércio internacional.

Os principais itens exportados pelo Acre são os produtos extrativistas (madeira e castanha-do-Brasil), as carnes e derivados (bovinos e suínos, inclusive miúdos). Mas, desde 2022, a soja tem apresentado números crescentes. Em 2024, inclusive, a soja passou a liderar a pauta de exportações. A evolução da participação da soja na produção total de grãos é significativa, saindo de 0,7% em 1998, para 9,82% em 2022, um crescimento de 1.302,86% em 14 anos.

O estudo aponta que, quanto às importações, mais de 90% de bens manufaturados que o Acre importa são provenientes de outros estados. Isso indica que uma política pública de substituições de importações seria muito bem-vinda.

Perspectivas

Em todas as falas coletadas, a importância da “Estrada do Pacífico” foi destacada. A rodovia liga o Brasil e o Peru e desempenha um papel fundamental no desenvolvimento sustentável do Estado do Acre, na visão dos entrevistados. A rota não apenas conecta regiões geograficamente distantes, mas também abre portas para oportunidades econômicas e sociais significativas. Entretanto, até o presente momento (2024), tem sido pouco explorada, notadamente por

Os entrevistados destacaram que o acesso facilitado ao mercado internacional pela rodovia poderá ser um impulsionador para a economia do Acre na medida em que permitirá que a produção acreana possa chegar aos mercados andinos e asiáticos (principalmente), de maneira mais eficiente (custo e tempo).

Ao facilitar o transporte de produtos, a rodovia poderá contribuir para a diversificação da economia local e para a redução da dependência de atividades econômicas danosas ao meio ambiente, além de incentivar a promoção de estratégias de preservação ambiental e gestão sustentável dos recursos naturais ao longo da rota, que são essenciais para garantir desenvolvimento econômico de forma a não comprometer os frágeis ecossistemas da região.

Outra possibilidade citada nas falas, que não aparecia nos discursos em consultas anteriores, é o megaporto de Chancay. Os especialistas destacaram esse investimento como um potencial incentivador da geração de renda e empregos no Acre, desde que seja adequadamente explorado, de forma planejada. Segundo o que se pode evidenciar, os empreendedores acreanos e o próprio Governo já estão atrasados em seus processos de planejamento visando explorar esse mega investimento. Essa constatação remete à urgência de se estabelecer um plano estratégico para aproveitar essa brecha aberta.

Chancay será capaz de receber navios com mais de 18 mil contêineres, graças à sua profundidade de 16 metros. Atualmente, os navios com produtos agroindustriais que partem de outros portos peruanos, levam 45 dias para chegar ao mercado asiático, mas com a inauguração desse megaporto, o prazo de chegada poderá ser reduzido em 10 dias.

Com esse grande investimento, os especialistas acreditam que surge uma “oportunidade para o Acre de ter uma rota direta para exportar para um mercado imenso, que é a Ásia”.

A terceira oportunidade observada, que reforça expectativas positivas quanto ao futuro das trocas internacionais do Acre, é sobre um projeto audacioso denominado de “Ferrovia Transoceânica”. Todos os especialistas consultados falaram sobre esse investimento. Sobre essa ferrovia, de acordo com informações da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária, em 2014, um acordo foi firmado entre Dilma Rousseff e os governos do Peru e da China para financiamento e estudos da mesma. Em 2015, o governo chinês comprometeu-se em financiar parte do projeto, excluindo o trecho até o Porto do Açu.

A inauguração da ponte na BR-364, sobre o Rio Madeira, e  investimentos crescentes de chineses no Peru também apareceram entre as respostas dos entrevistados.

Desafios

Pelo observado, são vários os problemas/desafios que necessitam de superação. Desafios já conhecidos há tempos. Nesta pesquisa, nada de novo sobre os gargalos a superar foi evidenciado.

Os gargalos/desafios que atualmente dificultam uma maior inserção de empresas acreanas no comercio internacional, via a Estrada do Pacífico, são problemas relacionados à infraestrutura e logística, questões econômicas, e questões de cunho fiscal. Além disso, especificamente no Acre, foi destacado que a maioria dos empreendedores não possuem uma cultura de exportação.

“E isso implica que as ações de comércio exterior, feitas por eles, quase sempre aconteçam de forma passiva, para atender demandas específicas, surgidas ao acaso. Infelizmente, essa ainda é a realidade. Aqui, portanto, tem-se outra oportunidade para o desenvolvimento de ações por parte do poder público em parceria com o empresariado”, destaca o estudo.

 

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