Observatório do Desenvolvimento

Boletim de Conjuntura Econômica do Acre

Déficit habitacional do Acre é de cerca de 25 mil moradias, apontam especialistas no Boletim Econômico do Fórum Empresarial do Acre

O déficit habitacional do Acre é de cerca de 25 mil moradias. O dado foi levantado pelos economistas contratados pelo Fórum Empresarial de Inovação e Desenvolvimento do Acre, em parceria com a Fundação de Apoio e Desenvolvimento ao Ensino, Pesquisa e Extensão Universitária no Acre (Fundape), e consta no 2º capítulo do 6º Boletim de Conjuntura Econômico.

O estudo completo pode ser conferido aqui. 

Os economistas fizeram uma análise minuciosa da cadeia produtiva da construção civil do Acre em 2023 e as expectativas para 2024. Para o estudo, usou-se dados secundários disponibilizados na internet, em sítios especializados, em publicações da Federação das indústrias do Estado do Acre (Fieac) e do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). Além disso, realizou-se entrevistas/conversas não estruturadas com participantes da cadeia considerados especialistas, ou seja, profissionais liberais (engenheiros, arquitetos, pesquisadores etc.) e, principalmente, empresários. Dentre os empresários consultados entrevistou-se o presidente do Sindicato da Indústria de Construção Civil do Estado do Acre (Sinduscon/AC).

A cadeia da construção civil é uma das grandes fontes geradoras de emprego e renda, em todo o mundo, e demanda cada vez mais tecnologia de gestão e de produção, movimento que ainda não se verifica na mesma velocidade no cenário brasileiro.

Em 2022, o setor foi responsável pela geração de 10% dos empregos formais no Brasil. De acordo com o IPEA, em julho de 2023, a taxa de crescimento percentual de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCFA) para os últimos 12 meses era de 4,2% e o estoque de ocupações formais acumulado no ano de 2023, até agosto, era de 222.925 postos de trabalho.

A cadeia é diversificada e complexa, englobando desde o beneficiamento de recursos naturais, como a indústria de cimento e da cerâmica, até a prestação de serviços altamente especializados. Divide-se em vários elos, nos quais coexistem empresas de diferentes estágios de desenvolvimento:

  • indústria e comércio de materiais de construção;
  • edificações;
  • construção pesada;
  • serviços imobiliários;
  • serviços técnicos de construção;
  • atividades de manutenção de imóveis.

No Acre, atividade de construção civil está vinculada basicamente a obras públicas. Segundo estimativas do Sindicato da Indústria de Construção Civil do Estado do Acre (Sinduscon-AC), 80% das empresas que atuam nesse setor são empreiteiras de obras públicas; existem ainda incorporadoras que investem no mercado de construção de casas e apartamentos.

O déficit habitacional acreano é de cerca de 25 mil unidades, e o potencial de mercado, em construções e reformas, é estimado em cerca de R$ 100 milhões anuais.

A cadeia é a grande empregadora. No período de 1998 a 2001 ela foi responsável por mais de 40% dos empregos gerados no Estado. Entretanto, nos últimos anos, a quantidade de empregos diretos ofertados vem diminuindo. Em 2012, empregava cerca de 7.745 pessoas diretamente. Entretanto, em 2021, os empregos diretos caíram para 5.528, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE, Relação Anual de Informações Sociais – RAIS). Os especialistas observam que, no pico do Programa de Aceleração de Investimentos (PAC), em 2011, o setor chegou a empregar cerca de 10.000 trabalhadores diretamente no Acre.

Durante as entrevistas feitas, na opinião dos os especialistas consultados, a avaliação de 2023  não é considerada boa, notadamente para os empreendedores e empresas legalmente constituídas. Para os entrevistados, o ano de 2023 apresentou um baixo dinamismo no setor, não muito diferente do que se observou em anos anteriores. As empresas participantes da cadeia da construção civil no Acre a cada ano vêm diminuindo suas intensidades de atuação.

Os entrevistados deixaram claro a importância da cadeia como um todo no conjunto da economia do Acre. Entretanto, foi notório nas falas que o estado passa por um processo grave de desindustrialização, que se faz presente fortemente na indústria de transformação e na de indústria da construção. O importante elo ceramista, por exemplo, como informado antes, atualmente encontra-se operando com 40% de sua capacidade instalada, percentual considerado muito baixo comparado a anos anteriores.

A cadeia é fortemente influenciada por investimentos públicos. Um grande gargalo apontado, que atrapalha muito as empresas, é que os governos, principais contratantes, parecem não saber contratar, fiscalizar e pagar. Interpretando as afirmações nessa linha, pode-se concluir que o problema parece ser de gestão/liderança. O não saber dos governos não se relaciona à falta de profissionais qualificados/competentes para realizar licitações, fiscalizações e pagamentos. os entrevistados afirmaram que a construção civil no Acre depende 80% de obras públicas.

As evidências remetem ainda para a inexistência de uma política pública de desenvolvimento claramente definida. Com objetivos estratégicos claros e, principalmente, de uma definição do que o Acre precisaria fazer para se desenvolver. Essa ausência de planejamento traz impactos para o dinamismo do setor da construção, na visão da maioria dos especialistas consultados, pois investimentos públicos não são realizados.

 

Compartilhe

Share on facebook
Share on twitter
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on linkedin
plugins premium WordPress