EMBRAPA – 19/06/2019
Empresas do setor de tecnologia, startups agritechs e representantes do agronegócio e do Governo Federal reuniram-se nesta segunda-feira (17) no I Encontro de Negócios para a Agricultura Digital, que teve como objetivo discutir a transformação digital no campo e as perspectivas desse novo mercado. Os destaques da programação do evento, realizado em Campinas (SP), foram o lançamento do programa de inovação da Embrapa Informática Agropecuária, o TechStart Agro Digital, e o workshop do Observatório de Negócios Digitais da Agricultura Brasileira, uma realização da Embrapa e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
A abertura do encontro contou com a participação do diretor-executivo de Pesquisa e Desenvolvimento, Celso Moretti, do secretário de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Fernando Silveira Camargo, do secretário adjunto de Governo Digital do Ministério da Economia, Ciro Pitangueira de Avelino, e do secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Social e de Turismo de Campinas, André von Zuben, entre outras autoridades. Também estiveram presentes o superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi, e o diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da Fapesp, Carlos Américo Pacheco.
Para a chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária, Silvia Massruhá, a transformação digital já está presente em diversos setores da economia. Na agricultura, não é diferente. “Nosso desafio é mostrar como as novas tecnologias, as tecnologias disruptivas, podem agregar valor à cadeia produtiva, de modo que seja atraente para o produtor, seja pequeno, médio e grande, e pensando também no atendimento às exigências do mercado consumidor”.
Segundo a gestora, o evento representa mais uma oportunidade de convergência entre os diferentes atores do ecossistema de inovação em agricultura digital. A Embrapa tem um papel fundamental de fomentar cada vez mais essa conexão entre produtores rurais, empreendedores e empresas de tecnologia e do agronegócio.
“O tema da inovação no agro é inquietante. Todo mundo está, de alguma forma, refletindo a respeito. O setor é amplamente carregado de tecnologia e está cada vez mais despontando como uma fronteira da tecnologia do Brasil, até pela magnitude do setor agropecuário e sua relação com o PIB nacional”, afirmou o secretário de Inovação do Mapa, Fernando Camargo.
Durante a visita à Embrapa Informática Agropecuária, ele conheceu as iniciativas de fomento a startups, laboratórios e projetos desenvolvidos pela Unidade nas áreas de modelagem agroambiental, bioinformática e zoneamento agrícola de risco climático, além das atividades da Unidade Mista de Pesquisa em Genômica Aplicada a Mudanças Climáticas (Umip GenClima), uma parceria entre Embrapa, Unicamp e Fapesp. Para o secretário, o trabalho mostra as potencialidades da inovação disruptiva no agronegócio.
Aceleração de startups
A Embrapa Informática Agropecuária e a Venture Hub lançaram, durante o encontro, o programa de aceleração de startups TechStart Agro Digital, iniciativa com apoio da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) e visa a contribuir para o desenvolvimento de negócios e tecnologias com foco em soluções digitais para o agronegócio. As inscrições já estão abertas e seguem até 17 de agosto. Serão selecionadas oito startups que participarão de um processo estruturado, durante 21 semanas, com acesso a mentorias especializadas, treinamentos e oportunidades de interação com grandes e médias empresas, investidores e instituições de pesquisa.
Érico Pastana, executivo da Venture Hub, aceleradora de startups da região de Campinas, apresentou a estrutura do programa. Segundo ele, o programa foi pensado como uma forma de melhorar o processo de inovação e o relacionamento com ecossistemas de inovação aberta. “O cenário atual mostra que nossa capacidade de desenvolvimento tecnológico e geração de conhecimento é muito maior que nossa capacidade de inovação. Nós geramos muita coisa boa, muita tecnologia, muita solução, mas por uma série de fatores, como articulação, temos ainda um grande potencial a ser explorado”, completa.
As propostas para o TechStart Agro Digital deverão abranger soluções para problemas reais da agricultura em oito temas: Gestão de Risco Agrícola; Identificação e Detecção de Pragas e Doenças; Cadeia de Hortifruti; Automação e Robotização no Campo; Biotech, Manejo e Monitoramento de Solo, Água, Planta, Estresses Bióticos e Abióticos; Pecuária de Precisão; e Nutrição e Sanidade Animal. A expectativa é que o encerramento da primeira rodada aconteça em fevereiro de 2020, com a apresentação final dos produtos e modelos de negócios das startups.
Além da mentoria técnica, os participantes terão apoio nas áreas jurídica, de propriedade intelectual e contábil e ainda facilidades de acesso a campos experimentais das Unidades da Embrapa e à infraestrutura do Innovation Hub Campinas. As startups também poderão utilizar gratuitamente as informações e modelos agropecuários gerados pela Embrapa disponíveis na plataforma AgroAPI. A ferramenta foi lançada em abril e contempla desde dados sobre cultivares e produtividade até zoneamentos agrícolas. As informações são acessadas por meio de APIs (interface de programação de aplicativos, na tradução do inglês) e podem ser úteis, por exemplo, no desenvolvimento de soluções para planejamento, monitoramento e gestão da produção.
Agrohub Campinas
Na programação do I Encontro de Negócios Digitais também foi apresentado o projeto AgroHub Campinas, iniciativa para promover a região como polo de inovação em agricultura digital. O objetivo é facilitar o acesso dos produtores rurais a soluções inovadoras para problemas reais do cotidiano no campo.
Segundo o jornalista Daniel Azevedo Duarte, idealizador do projeto, Campinas é a região com maior densidade e tradição na pesquisa e inovação no agronegócio no Brasil. “Contamos com a presença de importantes instituições de pesquisa e grandes empresas, voltadas tanto para a agricultura quanto para tecnologia. Temos 3 mil propriedades rurais na região metropolitana e 23 cooperativas agrícolas operando num raio de 70 km”, ressalta. A ideia do AgroHub é aproximar os diferentes atores do agronegócio e fomentar a troca de informações a partir das necessidades dos agricultores.
Duarte apresentou alguns resultados preliminares do levantamento que vem sendo realizado com produtores da região. “A pesquisa já nos mostrou que 95,2% dos produtores acreditam que a inovação pode trazer soluções para seus negócios”. As tecnologias apontadas como de maior interesse foram aquelas relacionadas a equipamentos que facilitem as operações de campo, softwares de administração e soluções para melhorar a conectividade nas propriedades. O AgriHub Campinas já conta com o apoio institucional dos sindicatos rurais de Campinas e de Valinhos, da Prefeitura de Campinas e da Fundação Fórum Campinas Inovadora, além do Instituto de Tecnologia dos Alimentos (Ital) e da Embrapa Informática Agropecuária.
Para o secretário de Desenvolvimento Econômico, Social e de Turismo de Campinas, André von Zuben, a iniciativa tem tudo para ser um sucesso. “Juntos nós podemos fazer muitas ações coordenadas buscando articular o ecossistema aqui da nossa cidade. Nós temos condições de ajudar, e muito, o nosso País na área de tecnologia para o agronegócio”.
Ilhas de tecnologias
O Encontro de Negócios para a Agricultura Digital contou também com uma área estruturada para demonstração de tecnologias das UDs de São Paulo e de plataformas digitais das empresas AWS, Microsoft, IBM e SAP, patrocinadoras do workshop do Observatório de Negócios Digitais da Agricultura Brasileira.
A plataforma AgroAPI, que disponibiliza informações e modelos para serem utilizados por empresas e startups na criação de softwares e aplicativos móveis, esteve entre as tecnologias de destaque da Embrapa Informática Agropecuária. A Unidade apresentou ainda soluções baseadas em inteligência artificial e visão computacional para detecção automática de frutos e de doenças em plantas e também sistemas para monitoramento da atividade agropecuária, como o Sistema de Análise Temporal da Vegetação (SATVeg).
A Embrapa Instrumentação foi representada pela empresa parceira Fine Instrument Technology (FIT), que atua no desenvolvimento de um sensor de medição de análises físico-químicas para fornecer dados confiáveis na tomada de decisão da agroindústria, por exemplo a extração de óleo vegetal, evitando perdas durante o processo. Sílvia Azevedo, sócia na empresa, explica que o sensor mede em 30 segundos o teor de óleo nos resíduos. Além dessa utilização, mas com a mesma velocidade e precisão, o sensor pode medir a umidade, perfil de ácidos graxos e índice de iodo no óleo, entre outras análises.
A Embrapa Meio Ambiente demonstrou dois sistemas desenvolvidos pela Unidade. O primeiro, fruto de uma parceria entre cinco UDs e a Agência Paulista de Tecnologias do Agronegócio (Apta), chamado Aquisys, é um sistema informatizado de apoio às boas práticas de manejo e gestão ambiental da aquicultura. O segundo é o Agrotag, aplicativo para monitoramento da adoção e qualificação da integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).
A Embrapa Territorial fez uma apresentação institucional com foco no volume e variedade de dados espaciais gerados e da capacidade de interpretação e análise desses dados. Daniela Maciel, do Setor de Prospecção e Avaliação de Tecnologias, disse que a Unidade oferece muitas oportunidades de negócios a partir do uso dos dados espaciais que possui e gera. “Nosso olhar no evento foi atrair parceiros para as tecnologias ligadas à análise dos dados do CAR, macrologística e defesa sanitária”.