Por Victor Oliveira – ADMINISTRADORES.COM – 21/04/2018
Além de produtos que mudam a forma de nos comunicarmos, locomovermos e relacionarmos, as práticas das empresas de lá impactam no modo de ser de várias outras espalhadas pelo mundo
Os empreendedores do ramo tecnológico tendem a ver o Vale do Silício como uma inspiração, e porque não, um objetivo. A região da Califórnia, nos Estados Unidos, é berço de empresas como Facebook, Apple e Google. A consolidação do Vale como um norte para as startups criou um ciclo vicioso de inovação: as empresas são atraídas para lá e o seu sucesso atraí outras.
Além de produtos que mudam a forma de nos comunicarmos, locomovermos e relacionarmos, as práticas das empresas de lá impactam no modo de ser de várias outras espalhadas pelo mundo. A regra da região é a colaboração: por todos respirarem inovação, o espírito de compartilhamento é pulsante. O ecossistema é sustentável e empreendedores de sucesso alavancam o crescimento de outros por meio de mentorias, eventos, investimentos, etc.
Para se ter uma ideia, uma prática comum lá é o compartilhamento de ações das empresas com seus funcionários. Assim, eles recebem parte do resultado que ajudam a construir. Além disso, os projetos open-source — quando diferentes programadores contribuem para melhorar um software sem retorno financeiro, por exemplo — são vistos com ótimos olhos.
Transferir essa realidade para um negócio no Brasil é um desafio, mas vale a pena. Trabalhei alguns meses em uma aceleradora no Vale e mais 11 meses como um dos primeiros programadores da UBER. Ao voltar para terras brasileiras, fundei, junto com mais três amigos, uma empresa que desenvolve aplicativos sob encomenda de uma forma única.
A saída encontrada para o impasse jurídico foi optar pelo modelo de negócio de uma empresa S.A. Quanto aos problemas de liquidez, decidimos por comprar as ações dos funcionários por um preço maior do que foram vendidas caso este queira o dinheiro antes do tempo previsto, além de compartilhar os resultados trimestralmente.
Mais difundidos no país, projetos open-source são desenvolvidos por diversos programadores. Por meio de fóruns, profissionais do mundo inteiro colaboram para o desenvolvimento de soluções mais eficazes e seguras. Em algumas regiões do Brasil, a prática ainda é vista com desconfiança, mas quem é do meio, incentiva as empresas a cada vez mais abrirem seus dados. Com projetos abertos estabelece-se uma gestão horizontal na qual qualquer pessoa com o conhecimento necessário pode ajudar a desenvolver e aprimorar um software. Por mais que exista uma empresa ou alguém responsável por abrir o código do projeto e escolher quais mudanças realmente devem ser incorporadas no código original, a programação é livre.
A prática aumenta a possibilidade dos programadores se aprimorarem participando de grandes projetos e aprendendo com especialistas de outras regiões. Por outro lado, empresas contam com ajuda para elevar o nível técnico de suas soluções.
Outra prática comum no Vale que requer insistência para implementar no Brasil é a gestão lean. Um país, acostumado com grandes indústrias, conhece uma gestão vertical e burocrática. O maior desafio aqui é ensinar as pessoas a pensarem em ciclos curtos e incentivar a gestão horizontal — onde todos têm voz dentro da empresa. A ideia de gestão lean passa por objetivos pensados para um curto período de tempo, acompanhando o ritmo do mercado. Além disso, no nosso meio de atuação, um app precisa ser publicado mesmo que ainda possua espaço para melhoria, a evolução é constante. Com essa metodologia a solução pode ser aprimorada à medida que as demandas forem surgindo.Por mais que existam desafios reais ao implementar práticas de empresas gurus em tecnologia no país, aqui também encontramos diferenciais que fazem falta na região norte americana. A qualificação da mão-de-obra, a criatividade, companheirismo e alegria tornam os escritórios brasileiros modernos lugares que pulsam motivação e excelência. Juntando todos os ingredientes, o resultado só pode ser uma receita de sucesso.
Victor Oliveira — CEO da Cheesecake Labs